[Resenha] A Liga dos Artesãos

Obra: Alvores – A Liga dos Artesãos.

Autor: Lauro Kociuba.

Editora: publicação independente.

Gênero: fantasia urbana

Número de páginas: 255

Sinopse: Anões, elfos, orcs, wargs… E se eles existiram de verdade? E se, ainda hoje, houver remanescentes desses seres entre nós? Alvores – A Liga dos Artesãos é uma fantasia urbana de realidade alternativa. Cidades subterrâneas gigantescas; elfos ocultos entre os homens; e criaturas fantásticas surgindo e desparecendo em meio às ruas de Curitiba. É nesse cenário que Tales, filho de encantados desvenda uma trama secular, envolta em batalhas entre os descendentes das raças da alvorada dos tempos. Descobrindo máquinas de guerra a vapor, bardos, guerreiros. Participando de mistérios nas praças, terminais e esquinas do mundo real.

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Capa do livro. Não, isso não é a Cruz de Malta. Isso é o símbolo do clã Bur, que governa a cidade subterrânea de Khur.

Olá, pessoal.

Reabrindo o blog em grande estilo, venho aqui postar uma resenha de Alvores – A Liga dos Artesãos. É um livro de fantasia brasileiro (gênero que vem crescendo nos últimos anos) e mais que isso: a história se passa em nosso mundo. Na realidade, uma versão alternativa do nosso mundo (a não ser que você tenha visto elfos, anões e orcs andando por aí). A trama se desenrola em Curitiba e na cidade subterrânea dos anões que fica no subsolo desta, chamada de Khur. Aqui eu acho interessante observar que o autor se preocupou (pelo menos um pouco) em não apenas inserir seres fantásticos na nossa realidade, mas mesclar a história real de Curitiba com a história dos anões de Khur que foram seus verdadeiros fundadores, segundo a mitologia do livro. Achei isso fantástico, mesmo não sendo curitibano.

Bem, mas do que trata o livro? Entender a mitologia e a história dos alvores é fundamental para compreender a história e Lauro soube introduzir bem o básico dela no prólogo. Os alvores são seres místicos que existiram desde a Alvorada dos Tempos. Incluem elfos, anões, orcs e várias outras criaturas fantásticas. Desde que os homens ascenderam, entretanto, elas veem se extinguindo e o livro começa justamente com um conselho de elfos debatendo sobre isso. Também ficamos sabendo de inicio sobre a Grande Guerra, que foi travada entre elfos, anões e descendentes contra orcs e descendentes. Tal guerra aconteceu concomitantemente com as duas Guerras Mundiais.

Também logo no prólogo somos apresentados à Tales, um encantado. Os encantados são seres frutos da miscigenação de elfos com humanos. Ele é deixado aos cuidados do elfo Aer’delo e desde então se tornou seu aprendiz. Além dos encantados, temos também os mestiços, que são filhos de orcs com humanos.

A história em si começa alguns anos depois, quando Tales é enviado em uma missão, ordens de seu mestre Aer’delo. Mas o que era para ser apenas uma missão de espionagem e reconhecimento acaba saindo do controle rapidamente. De repente, Tales se vê em uma trama envolvendo orcs e anões e acaba sendo levado à Khur, a cidade dos anões que fica em baixo de Curitiba (que aliás, significa ‘Khur de cima’ no idioma dos anões). Ele também conhece mais sobre a história dos alvores e sobre ‘A Liga dos Artesãos’, que é uma espécie de associação internacional de anões. Não vou falar o que acontece depois, para não dar spoiler, mas a trama é surpreendente.

Agora, as minhas impressões.

No geral, eu gostei do livro. A trama é envolvente e bem desenvolvida. É também muito rápida, sem enrolações. Logo no primeiro capítulo já temos ação e esta só esfria momentaneamente quando Tales é levado a Khur para recomeçar novamente, alguns capítulos mais tarde. A história toda se passa em menos de 72 horas. Enfim, um livro bastante dinâmico, cuja leitura flui razoavelmente bem. Os capítulos são curtos e bem postos, as descrições são bem medidas e permitem uma boa visualização dos cenários e elementos da história.

Um ponto negativo: pelo fato de a história se desenvolver muito rapidamente, não há muito tempo para se aprofundar mais nos personagens. Esse é um ponto que não gostei no livro do Lauro. Os personagens poderiam ter sido mais bem desenvolvidos e explorados. Eu realmente senti falta de ter mais detalhes sobre eles, suas vidas, seus passados, etc. Não que o Lauro não houvesse se preocupado com isso. A cada três capítulos há um capítulo de ‘interlúdio’, justamente para explorar mais o passado de algo personagem. Mas mesmos estes capítulos eu achei superficiais. A impressão que eu tive é que Lauro se preocupou mais em terminar a história do que lapidá-la melhor, enriquecendo-a com mais detalhes.

Um ponto que achei interessante, e que vale ressaltar, é a relação que os seres alvores tem com as tecnologias humanas. São simplesmente incompatíveis. É como se eles emitissem alguma espécie de campo de força que interfere em tudo que é eletrônico. Desde modo, nenhum aparelho eletroeletrônico funciona quando um alvor está por perto, o que os obriga a viverem de modo, digamos, old school. Isso eu achei genial, porque ajuda a reforçar a ideia de o quanto é difícil para eles sobreviver em um mundo dominado por humanos (humanos estes que os caçaram durante a Idade Média). Justamente por isso os anões tiveram que recorrer a outras formas de tecnologias e Lauro soube muito bem introduzir a energia geotérmica e as máquinas a vapor dos anões. Aliás, a parte das descrições das máquinas foi muito bem feita.

Uma coisa que me incomodou durante a leitura foi justamente essa convivência dos alvores com os humanos, especialmente nesse mundo globalizado. Lauro não se preocupou muito em detalhar como exatamente esses seres passam despercebidos do público geral. Também senti falta de uma descrição mais detalhada dos mestiços. Eles seriam mais parecidos com os orcs ou teriam traços mais humanos? Talvez se parecessem com humanos grandes e truculentos? Dado que eles conseguem andar na rua e passar despercebidos (se estiverem devidamente encapuzados), eu apostaria que eles tem traços muito humanos, senão seriam notados facilmente. Os elfos e encantados eu não digo nada, por que tirando as orelhas pontudas, eles tem um fenótipo mais humano. Enfim, esse é um ponto que deixou a desejar.

Ele se redimiu, entretanto, com a introdução dos bardos. Marcel, um humano que foi discípulo de uma elfa, é um bardo que tem um papel fundamental na história. Eu realmente gostei de como eles utilizam seu ‘dom’ para interferir na matéria e nas emoções das pessoas. É como se tudo no universo reagisse a determinado comprimento de onda. Assim, utilizando a ‘melodia’ correta, é possível manipular qualquer emoção humana. Ponto para o Lauro.

O final também foi bom e deixou um cliffhanger para o próximo livro. Aliás, eu já tive a honra de ler a primeira parte do prólogo do próximo livro da saga e devo dizer que me surpreendi positivamente. Esse tem tudo para ser melhor, mas não vamos botar os carros na frente dos bois.

Por fim, quero destacar algo que adorei no livro, que são as referências. Lauro vai deixando ao longo do texto várias frases ou trechos que fazem referência a grandes obras da fantasia. Tem desde O Hobbit e Senhor dos Anéis (“corram, seus tolos!”) do Tolkien até A Torre Negra do King. E essas foram as que eu consegui pegar. Certamente há outras, de livros que não li ou simplesmente não percebi. Ele bebeu da fonte desses mestres e soube como homenageá-los propriamente.

Considerações finais: Lauro é um autor iniciante e independente (ele publicou sua obra com ajuda de financiamento coletivo, através do Catarse). Apesar de todos os pontos negativos que apontei, eles são suplantados pela beleza e criatividade da obra. Certamente que o autor terá tempo para amadurecer sua escrita, mas no geral podemos dizer que ele começou com o pé direito. O enredo é muito bom e, dado que é uma publicação independente, me surpreendi com os poucos erros gramaticais e tipográficos. Sua obra também mostra que podemos sim ter uma publicação independente de qualidade. Mostra também que a literatura fantástica brasileira pode e deve ser explorada.

Julgamento final: recomendo muito, especialmente se você está procurando novos autores brasileiros.

Para finalizar quero dar os parabéns ao Lauro pelo seu trabalho. Alvores somos nozes!

Link para o e-book na Amazon

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Site oficial do livro.

Catarse (site de financiamento coletivo)

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